Argumentos para nunca mais comprar na Amazon

Por Tadeu Breda

 

Críticas à Amazon não faltam — e este livro compila uma profusão delas de maneira simples e acessível, para que ninguém nunca mais alegue inocência ao adquirir produtos e serviços da empresa. “Ah, mas o preço… Ah, mas a entrega…” Danny Caine desmonta, uma a uma, as principais justificativas que fazem milhões de pessoas recorrer aos tentáculos de Jeff Bezos todos os dias quando desejam satisfazer algum desejo de consumo. 

Preços baixos têm um custo, entregas rápidas também — e esse custo costuma se expressar em sofrimento humano, superexploração do trabalho, irresponsabilidade ambiental, isenções fiscais, uso intensivo e nebuloso de dados pessoais, violações de privacidade, relações promíscuas com o poder público e obscena concentração de renda. Nada disso é cobrado na fatura do cartão de crédito, mas precisa entrar na conta de cada operação realizada pela megavarejista — ou por alguma de suas inúmeras subsidiárias. 

Sim, porque este livro não se limita a falar do danoso papel desempenhado pela Amazon no mercado editorial. Danny Caine é dono de uma pequena livraria no interior dos Estados Unidos que, como vários estabelecimentos ao redor do mundo, sofre diariamente os impactos causados pela gigante. E explica de maneira cristalina como o site de Jeff Bezos pratica descontos abusivos que não podem ser replicados por aí, muito menos por lojinhas de rua abertas ao público em horário comercial, com prateleiras cheias e atendentes atenciosos. 

É difícil e cansativo argumentar com quem não consegue enxergar além do preço e encara os livros como uma mercadoria qualquer. Mas Danny Caine consegue, e sem perder a leveza e o respeito, mesmo quando estende a análise para outras empresas dessa monstruosa constelação corporativa, como Twitch, Alexa, Kindle, Audible, Ring, IMDb, Goodreads, The Washington Post, Whole Foods e Amazon Prime Video. Elas estão mais ou menos espalhadas pelos quatro cantos do planeta, mas nenhuma é tão onipresente quanto a Amazon Web Services, já que é praticamente impossível acessar a internet sem passar pelos seus servidores. 

O ponto nevrálgico da crítica do autor é o tamanho e a influência da Amazon — um perigo para o futuro de nossas combalidas democracias. Não deveria haver empresas tão monstruosas, mas elas existem e estão redefinindo o sistema à sua imagem e semelhança. O modelo logístico da Amazon, por exemplo, com motoristas precarizados, é replicado por negócios mundo afora. A rapidez que definiu sua fama se tornou um imperativo insalubre, com trabalhadores correndo contra o relógio na ânsia de entregar pacotes no mesmo dia ou no dia seguinte. 

Tamanha potência derruba qualquer tentativa ingênua de buscar algum tipo de regulação pelas regras do mercado. Por mais que o consumidor tenha, sim, parcela de responsabilidade pelo crescimento da Amazon ao oferecer à empresa dinheiro e dados, os quais ela usa para ganhar mais dinheiro e obter mais dados, em um círculo vicioso de enriquecimento, não há nenhuma esperança de resistência sem recorrer ao Estado. 

Apesar de extremamente cooptável e cooptado, apenas o poder público pode impor limites às práticas destrutivas desse titã tecnológico. É nisso que aposta Danny Caine, ao citar leis europeias que impedem a venda de livros com descontos abusivos no primeiro ano de lançamento e a atuação de parlamentares estadunidenses que colocaram executivos das Big Tech na berlinda por práticas anticompetitivas. 

Diante da aparente impossibilidade de frear a Amazon e seus congêneres, o autor afirma que há muito mais em jogo do que a mera sobrevivência das livrarias e do comércio on-line: “Trata-se de como as comunidades serão no futuro se deixarmos as corporações o definirem. É algo tão importante que não consigo me imaginar desistindo”. 

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