Querides leitores,
Nesta mensagem de final de ano não falaremos sobre a crise das grandes livrarias, nem sobre o calote que Saraiva e Cultura deram em todo o mundo, nem sobre o resultado das urnas, nem sobre todos os retrocessos que estamos vivendo e ainda iremos viver. Se 2018 foi muito difícil, 2019 deve ser ainda mais complicado. Sabemos que a tristeza, a frustração e a decepção têm sido imensas. E que tudo pode piorar.
Mas acreditamos que não há mais espaço para lamentações. Por isso, preferimos falar sobre o que fizemos no ano que passou. Apesar de Copa do Mundo, greve dos caminhoneiros e eleições presidenciais, fizemos muito. Lançamos onze novos títulos: livros bonitos e importantes. Temos vimos obras lançadas no ano passado caírem nas graças do público.
Tudo começou em março. Dois dias depois da covarde execução de Marielle Franco (quem, afinal, matou Marielle?) lançamos Raul, de Alexandre De Maio, nosso primeiro livro de jornalismo em quadrinhos. Também em março publicamos O eclipse do progressismo: a esquerda latino-americana em debate, conjunto de artigos sobre o fim do chamado “ciclo progressista” na região — que teria uma dramática continuidade com a vitória de Jair Bolsonaro.
Abril foi o mês em que voltamos nossos olhos para a luta pela terra. O perecível e o imperecível: reflexões guarani mbya sobre a existência, de Daniel Calazans Pierri, tenta compreender como este povo vê o mundo e os brancos enquanto resiste em territórios cada vez menores e sob ataque do “progresso”. Apaixonado por justiça: conversas com Sabine Rousseau e outros escritos, de Henri Burin des Roziers, aborda a trajetória do frade francês que dedicou boa parte da vida à luta pela reforma agrária na Amazônia brasileira.
Em junho, marcamos os cinco anos da Jornadas de Junho de 2013, ciclo de protestos populares que deixou um gosto amargo de violência policial. Memória ocular: cenas de um Estado que cega conta a história de uma das vítimas, Sérgio Silva, fotógrafo que perdeu o olho ao ser atingido por uma bala de borracha enquanto cobria uma manifestação no centro de São Paulo. Na tevê, a Copa do Mundo realizada na esteira do centenário da Revolução Russa motivou a publicação de Guia Rússia para turismo do colapso, ou o espetáculo das ruínas construtivistas na Moscou especulada, de Rachel Pach.
O segundo semestre chegou com um livro-reportagem chamado Roucos e sufocados: a indústria do cigarro está viva, e matando, de João Peres e Moriti Neto, que em dezembro seria agraciado pelos jurados do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, no Rio Grande do Sul, berço dos cultivos de tabaco e do lobby favorável aos interesses das grandes empresas do setor.
Novembro assistiu a quatro lançamentos da Editora Elefante. Começamos com No espelho do terror: jihad e espetáculo, um instigante ensaio do historiador Gabriel Ferreira Zacarias sobre as novas modalidades de terrorismo e a violência cotidiana do capitalismo. Menos de dois meses depois, o livro, infelizmente, dialogaria com o caso de um atirador que matou cinco pessoas e depois se suicidou na Catedral de Campinas, em dezembro.
A razão neoliberal: economias barrocas e pragmática populartrouxe a cientista política e ativista argentina Verónica Gago para uma turnê de debates em Manaus, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Os eventos internacionais seguiram com o lançamento de Pós-extrativismo e decrescimento: saídas do labirinto capitalista, de Alberto Acosta e Ulrich Brand, trazendo visões de outros lugares do mundo para ajudar na elaboração de estratégias e alternativas ao atoleiro em que nos metemos.
No finalzinho de novembro, tivemos um momento especial. Com o lançamento de Uma história da onda progressista sul-americana (1998-2016), resultado de anos de pesquisa, viagens, estudos e entrevistas de Fabio Luis Barbosa dos Santos, chegamos à marca de trinta títulos no catálogo. Parece pouco, mas estamos tremendamente orgulhosos por termos chegado até aqui. Claro que jamais conseguiríamos sem o apoio de vocês.
Além de novos livros, em 2018 assistimos a Calibã e a bruxa, de Silvia Federici, cair nas graças das mulheres brasileiras dentro e fora da universidade, animando trabalhos acadêmicos e rodas de conversa país afora. As postagens que diariamente surgem nas redes sociais são prova disso. Nem precisamos dizer a satisfação que sentimos ao ver as declarações de amor pelo livro. Nada faria uma editora mais feliz. Sério, não tem preço.
No finalzinho do ano soubemos que, depois das infelizes declarações do presidente eleito, o governo cubano retiraria seus profissionais de saúde do Programa Mais Médicos. A notícia fez renascer o interesse em Branco vivo, de Antonio Lino, com fotos de Araquém Alcântara, que havíamos lançado em meados de 2017 — e que foi indicado ao Prêmio Jabuti na categoria “Crônica”. O interesse repentino nos pegou de surpresa, nossos estoques se esgotaram e tivemos que correr para imprimir mais uma tiragem. Correria boa.
Já temos uma fila de lançamentos incríveis para 2019. Logo no comecinho do ano enviaremos a vocês, em primeira mão, uma lista das novidades que nos esperam. Enquanto isso, continuamos trabalhando duro para entregar os livros mais bem editados e desenhados pelo menor preço possível. Porque, sim, enquanto vocês estiverem conosco, seguiremos avançando pela trilha do conhecimento, do debate, das ideias. Afinal, não existe outro caminho.
Agradecemos imensamente pela sua companhia em mais um ano.
Abraços e beijos enormes,
— Os elefantes