Colonialismo químico dizima milhões de abelhas no Brasil

Por Teresa Cristina

Uma matéria de primeiro de outubro do jornal Folha de S. Paulo narra uma consequência direta do uso massivo de agrotóxicos no Brasil: a morte em massa de abelhas, em diferentes pontos do país. Esse é um problema gravíssimo, já que as abelhas, graças à capacidade polinizadora, têm um papel essencial na manutenção e no desenvolvimento da biodiversidade, além de serem fundamentais para a produção de alimentos.

O inseticida responsável pelo surto que está vitimizando esses insetos é o Fipronil. Segundo o levantamento da Folha, ele já vitimou 100 milhões de abelhas no Mato Grosso, em junho, 80 milhões na Bahia em julho, e também provocou, em janeiro, perdas em Minas Gerais. Voltando um pouco no tempo, também foi responsável pela morte de 50 milhões de abelhas em Santa Catarina, em 2017, e pelo surto que dizimou quase 500 milhões no Rio Grande do Sul, entre outubro de 2018 e março de 2019.

O curioso e revoltante nessa história é que essa é uma substância que foi banida na União Europeia, mas segue em uso a todo vapor, ou melhor, pulverização, no Brasil.

E essa não é uma situação isolada, como aponta a geógrafa Larissa Bombardi, em Agrotóxicos e colonialismo químico, livro lançado agora em outubro.

Ela mostra como há uma discrepância entre exportação e uso dessas substâncias entre o norte e o sul global. Estados Unidos, a União Europeia e, mais recentemente, a China — a partir sobretudo de uma empresa sueca — estão no topo do ranking dos maiores produtores e exportadores de agrotóxicos. A União Europeia, com 13,6 bilhões de dólares vendidos ao exterior em 2020, e a China, com aproximadamente 8 bilhões de dólares comercializados no mesmo período, se destacam nesse cenário. Os Estados Unidos aparecem em terceiro lugar, com cerca de 4,5 bilhões de dólares.

 

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Já os países latino-americanos, especialmente o Brasil e a Argentina, têm sido receptáculos de um volume colossal de agrotóxicos produzidos e comercializados por empresas do Norte. Apesar de os Estados Unidos e também a China serem relevantes destinatários de agrotóxicos — em 2021, consumiram, respectivamente, cerca de 257 mil e 244 mil toneladas —, brasileiros e argentinos se destacam ainda mais, tendo consumido 719 mil e 457 mil toneladas de agrotóxicos no mesmo período.

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O pior é que esses países ainda padecem de legislações mais frouxas quanto ao uso e dosagem desses químicos. Na Europa, por exemplo, 269 tipos de agrotóxicos estão banidos, enquanto no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, os banimentos mal chegam a trinta substâncias.

Ou seja, milhões de pessoas (e abelhas) sofrem diretamente com a intoxicação por químicos agrícolas no Brasil e em outros países latino-americanos, enquanto a União Europeia protege a sua população (ao menos parcialmente) por meio de medidas mais restritivas, sem deixar de exportar esses mesmos venenos para cá, é claro. Dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil, cinco estão banidos na Europa.

Isso é o que a autora chama de colonialismo e violência química. Para entender melhor esses termos, convidamos à leitura do livro, disponível na nossa lojinha e nas melhores livrarias do país. A obra compila esses e outros dados alarmantes que nos permitem começar a compreender a gravidade do problema representado pelo uso massivo de agrotóxicos para a saúde humana e para o meio ambiente.

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