Quando escreveu o livro A ofensiva sensível, o militante e cientista político Diego Sztulwark se propôs a refletir sobre o que representava a chegada de Mauricio Macri à presidência da República após doze anos de governos kirchneristas na Argentina.

Ao analisar a ascensão da “nova direita” em seu país, o autor joga luz sobre um processo complexo, que se repete em outras nações latino-americanas, sobretudo no Brasil: a agressividade crescente do neoliberalismo possibilitou que governos direitistas, conservadores e ultraconservadores ganhassem espaço na região — e o maior sintoma desse movimento foi a eleição de Jair Bolsonaro.

“Me parece que a matriz fundamental de todas essas expressões políticas é a agressividade neoliberal. Não são um questionamento do modelo neoliberal; são figuras que convocam subjetividades reacionárias a serviço de uma nova fase do neoliberalismo”, analisa o autor, em entrevista à Elefante.

A ofensiva sensível chega ao Brasil no momento em que o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva impõe uma trégua ao processo de destruição acelerada do bolsonarimo. Ao mesmo tempo, alerta Sztulwark, a esquerda na América Latina se encontra em uma armadilha, sem uma “nova agressividade” no mundo dos movimentos populares e democráticos que possa questionar e transformar as estruturas capitalistas e conservadoras de nossas sociedades.

“Eu diria que está montada a estrutura de uma armadilha perfeita, em que nós, que nos identificamos com todas as tradições de transformação social iniciadas no final do século XIX, somos obrigados a defender a democracia, a ordem, as instituições, toda uma série de coisas que repudiamos, que são repugnantes.”

A esquerda argentina, continua Sztulwark, se vê na posição de defender o governo de Alberto Fernández, no qual não se reconhece, porque está sendo encurralado pelas forças da extrema direita que ganha força no país. “É um escândalo, um governo progressista, digamos, em que a desigualdade social cresce exponencialmente. Como vou defender isso? Ao mesmo tempo que não quero defendê-lo, a força política que cresce desafiando o governo é uma força política de extrema direita.”

Sztulwark acredita que a saída para essa armadilha ainda está sendo elaborada e passa por novas formas de vida, que surgem, em particular, em meio ao feminismo, ao movimento indígena e ao movimento organizado de trabalhadores precarizados. “Tenho a impressão de que essas formas de vida são um grande indicador de como avançam os contrapoderes em nossa época.”

 

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