O genocida voltou

Em meio a um escândalo envolvendo joias sauditas, o ex-presidente Jair Bolsonaro interrompeu seu autoexílio estadunidense e retornou ao Brasil na quinta-feira (30). Ele pisa em território nacional poucos dias após atingirmos a inaceitável marca de 700 mil mortes por covid-19 e dois meses após a revelação das mortes no território Yanomami, que levou o governo federal a decretar emergência em saúde pública na região. Bolsonaro passou 89 dias nos Estados Unidos, para onde se dirigiu após a derrota eleitoral para Luiz Inácio Lula da Silva, antes do término de seu mandato. 

A imprensa estadunidense destacou que, ao chegar ao Brasil, o ex-presidente encara um “futuro incerto” (Washington Post), em meio a um “cenário político tenso” (The New York Times) que tem como horizonte possível — e, para muitos de nós, desejável — sua prisão. O New York Times lembra que Bolsonaro é investigado por promover desinformação durante as eleições de 2022, ao espalhar fake news sobre a segurança das urnas eletrônicas, e se tornou alvo do sexto inquérito no Supremo Tribunal Federal em janeiro, por sua responsabilidade nos ataques violentos da extrema direita em Brasília.

Para nós da Elefante, a única recepção possível a Bolsonaro é garantir que ele pague por seus muitos e muito graves crimes. Em Bolsonaro genocida, publicado em 2021, reunimos duas pesquisas que sistematizam suas ações criminosas contra povos indígenas e o meio ambiente, assim como sua responsabilidade perante as mortes decorrentes da pandemia de coronavírus. O livro traz ainda a arte da capa, feita por Túlio Cerquize, em versão estêncil, que pode ser destacado e utilizado com tinta nas mais variadas superfícies. As artes também podem ser baixadas aqui.

Os ataques generalizados e a incitação ao genocídio contra os povos indígenas presentes no livro compõem a denúncia apresentada ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, em novembro de 2019, pelo Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu) e pela Comissão Arns. A estratégia de disseminação do coronavírus conduzida de forma sistemática pelo governo Bolsonaro está organizada no livro em uma linha do tempo elaborada por pesquisadores do Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, concluída em maio de 2021.

 

Sem anistia

 

Após os ataques bolsonaristas aos símbolos da República no dia 8 de janeiro, a Elefante conversou com Fabio Luis Barbosa dos Santos e Daniel Feldmnan, autores de O médico e o monstro: uma leitura do progressismo latino-americano e seus opostos. “A gente pode pensar que a anistia aos crimes cometidos pela ditadura foi uma das condições que propiciou os crimes do bolsonarismo. Portanto, uma questão que está colocada para a nossa sociedade é se haverá uma segunda anistia”, disse Fabio Luis sobre o slogan que ecoa na esquerda desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Também publicado em 2021, O médico e o monstro discute as contradições do progressismo na América Latina e traz uma chave de interpretação inédita para entender a dinâmica social brasileira que possibilitou a ascensão do bolsonarismo, que representa o monstro na alusão feita à história de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, do escocês Robert Louis Stevenson. A partir das ideias defendidas no livro, os autores classificam a eleição de Lula como uma “trégua” em relação ao bolsonarismo, que mitiga a intensidade do processo de aceleração destrutiva da institucionalidade e a corrosão do tecido social empreendido nos últimos quatro anos.

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