Instrumentalização neoliberal de Paulo Freire ganha força na educação pública

O nome do pernambucano Paulo Freire, patrono da educação no Brasil, tem sido alvo de disputa por diferentes correntes políticas no país, evidenciada pelos ataques da extrema direita ao educador — o mais recente deles desferido pelo governador do estado de São Paulo, o bolsonarista Tarcisio Freitas.

Uma apropriação mais perigosa, porém, tem sido feita na área educacional pelo neoliberalismo, alerta a historiadora Joana Salém Vasconcelos, uma das organizadoras de Paulo Freire e a educação popular: esperançar em tempos de barbárie, em entrevista ao Opera Mundi. “A crítica da extrema direita acabou até fazendo o Freire crescer. Agora, a instrumentalização neoliberal do Freire está vencendo o debate pedagógico no Brasil.”

A espontaneidade — característica do processo pedagógico freireano — tem sido distorcida como educação flexível no novo ensino médio e na base nacional curricular comum, políticas implementadas durante a gestão de Michel Temer (2016-2018), que se apropriam de algumas ideias do educador, “numa perspectiva da flexibilidade neoliberal para gerar mão de obra precária para um mercado de trabalho em frangalhos que é o mercado brasileiro”, ressalta Joana, que também é coordenadora editorial da revista Latin American Perspectives, nos Estados Unidos.

 

Pedagogia do opressor

 

Da perspectiva freireana, que tem como principal expoente a obra Pedagogia do oprimido, a co-organizadora de Paulo Freire e a educação popular aponta que o neoliberalismo representa sua antítese — a pedagogia do opressor. Nesse cenário, Joana Salém Vasconcelos ressalta a importância da educação popular elaborada por Freire. “A pedagogia do opressor é inteira baseada no neoliberalismo, na subjetividade neoliberal. O neoliberalismo detona com a saúde mental das pessoas, com a subjetividade, e a educação popular, num processo de diálogo, num processo necessariamente coletivo de escuta, recompõe essa subjetividade no sentido de criar e produzir, ou ampliar, os sujeitos políticos da sociedade.”

Paulo Freire e a educação popular é o 105º título da Elefante. Organizado por  Joana Salém Vasconcelos, Maíra Tavares Mendes e Daniela Mussi, que integram a Rede Emancipa de Educação Popular, o livro é resultado do curso 100 Anos de Paulo Freire: Esperançar em Tempos de Barbárie, realizado entre agosto e outubro de 2021 pela Universidade Emancipa (movimento social que compõe a Rede Emancipa), em parceria de extensão com a Universidade Federal do ABC. Os 65 autores são pesquisadores, ativistas e educadores populares com participação ativa na construção e realização desse evento.

Assista à entrevista completa:

 

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