Os livros da Coleção Alternativas demonstram a inviabilidade de projetos extrativistas. Movidos pela ideologia do progresso — uma das maiores falácias do século XX —, os projetos de mineração, petróleo, hidrelétricas e agronegócio concentram renda e empobrecem comunidades inteiras enquanto destroem a natureza em nome de um “desenvolvimento” que nunca chega nem jamais chegará.
Esses títulos priorizam autores e autoras latino-americanos ou que estão imersos na realidade das lutas travadas pelos povos da Nossa América contra o avanço e as metamorfoses do capitalismo. Em 2021, lançaremos novos livros da coleção, como Modo de vida imperial, de Ulrich Brand e Markus Wissen, e Pluriverso: um dicionário do pós-desenvolvimento, organizado por Alberto Acosta, Ariel Salleh, Arturo Escobar, Asish Kotari e Federico Demaria.
Conheça:
Mineração, genealogia do desastre
Neste livro, Horacio Machado Aráoz perverte a visão tradicional sobre a colonização da América e as origens do sistema capitalista, considerando a extração mineral realizada no século XVI em Potosí, na atual Bolívia, como a origem da modernidade — e dos eventos políticos, sociais e econômicos que nos trouxeram até aqui. Trata-se de um ensaio histórico-sociológico que pretende colocar na mesa dos debates uma tese sobre o lugar e o papel da mineração moderno-colonial na posterior configuração do projeto civilizatório hegemônico, que dá forma à vida social contemporânea. Nossa tese afirma, de maneira simples, que a mineração moderno-colonial foi o detonante fundamental do Capitaloceno. Aqui se procura demonstrar como esse tipo histórico de exploração das “riquezas” minerais da Terra, nascido do empreendimento da invasão e da conquista colonial do “Novo Mundo”, desencadeou e motorizou toda uma série de grandes deslocamentos geológicos e antropológicos que desembocaram na grande crise ecológico-civilizatória que hoje paira sobre nossa Mãe Terra e, especificamente, sobre nossa comunidade biológica, os humanos.
Direitos da natureza: ética biocêntrica e políticas ambientais
À primeira vista, a ideia de direitos da natureza pode causar algum estranhamento: talvez o mesmo estranhamento que um dia causaram as propostas de direitos civis, direitos humanos e direitos das crianças, por exemplo. Neste livro, o sociólogo uruguaio Eduardo Gudynas analisa os caminhos conceituais e as lutas sociais que vêm abrindo espaço para que comecemos a tratar a Natureza como sujeito de direitos, e não como mero objeto da exploração humana. O autor analisa os casos do Equador, que colocou os direitos da Natureza na Constituição aprovada em 2008, aproximando os termos Natureza e Pacha Mama, e da Bolívia, que aprovou leis de proteção da Mãe Terra. Sem abrir mão da crítica à experiência real destes e de outros países latino-americanos na gestão do meio ambiente, o autor oferece argumentos para construir uma nova ética de convívio entre seres humanos e o mundo natural: uma ética que não passa pelo romantismo de manter os ecossistemas puros e intocados, mas pelo respeito a seus ciclos, a suas capacidades e a seus povos originários, abandonando as métricas economicistas que propõem um crescimento infinito pautado pela destruição ambiental — e, consequentemente, pela desigualdade social.
As fronteiras do neoextrativismo na América Latina: conflitos socioambientais, giro ecoterritorial e novas dependências
Instigados pelo boom das commodities, governos progressistas que chegavam ao poder na América Latina no início do século XXI enxergaram na intensificação da exploração de bens naturais com vistas à exportação uma forma eficaz de enfrentar a crise econômica — e de enfim alcançar o sempre distante objetivo de desenvolvimento de suas respectivas nações. Como nos mostra a socióloga argentina Maristella Svampa neste livro, a consequente intensificação da espoliação da natureza demandada por esse modo de produção logo fez com que, em nome do “progresso” e do “desenvolvimento nacional”, esses mesmos governos não titubeassem em violar direitos humanos e em pôr em risco patrimônios ecológicos. Contudo, essa nova dinâmica das lutas socioambientais acabou servindo de caldo de cultura para uma nova matriz de resistência social cuja preocupação central é a defesa da terra e do território sustentada por valores ambientalistas, autonomistas, indígenas, comunitários e feministas.
Qual o valor da natureza? Uma introdução à ética ambiental
Não há mais como negar a importância e a imbricação entre ética e meio ambiente ou entre ética e ecologia. Nesse sentido, a obra de Daniel Braga Lourenço pretende contribuir para suprir um déficit teórico relativamente ao mapeamento crítico das principais correntes ideológicas, políticas e filosóficas que procuram responder à pergunta central lançada no título: Qual o valor da natureza? Possuiria a natureza valor meramente instrumental para os seres humanos ou teria ela valor próprio, intrínseco? Em que constitui cada um desses valores e quais são as consequências derivadas de sua aceitação e adoção? Podemos falar em direitos da natureza ou direito dos animais? Essas perguntas formarão a “taxonomia” do debate moral relativo ao valor da natureza e deverão influenciar novas compreensões e novos olhares sobre o lugar que ocupamos no mundo e sobre o que estamos autorizados ou não a fazer com a natureza, afinal, tudo o que é humano é ecológico e tudo o que é ecológico é humano.
Alternativas sistêmicas: Bem Viver, decrescimento, comuns, ecofeminismo, direitos da Mãe Terra e desglobalização
O enfraquecimento da crítica sistêmica da esquerda é hoje uma das principais fragilidades da luta contra o avanço do conservadorismo, do autoritarismo, do racismo, da xenofobia, da intolerância e do neofascismo. Valorizar horizontes utópicos de outras formas sociais não é irrealismo ou expressão de impotência política: é resgatar bússolas indispensáveis para direcionar e estimular lutas antigas e novas. No Brasil de Bolsonaro, o debate sobre Bem Viver, decrescimento, comuns, ecofeminismo, direitos da Mãe Terra e desglobalização, proposto neste livro, oferece oxigênio para uma esquerda que precisa se revigorar, e, principalmente, se reinventar. Este livro organizado por Pablo Solón parte da premissa de que estamos vivendo uma crise sistêmica que só pode ser resolvida com alternativas sistêmicas. As crises ambiental, econômica, social, geopolítica, institucional e civilizatória são partes de um todo. É impossível resolver qualquer uma delas sem abordar conjuntamente as demais. Elas se retroalimentam. Por isso, estratégias unidimensionais não conseguirão resolver essa crise sistêmica. Pelo contrário, podem agravá-la.
Pós-extrativismo e decrescimento: saídas do labirinto capitalista
Neste livro, Alberto Acosta e Ulrich Brand mostram que pós-extrativismo surge da resistência centenária dos povos latino-americanos, sobretudo das populações indígenas. Sem ceder a romantismos, os autores veem nos modos de vida tradicionais andinos e amazônicos exemplos de como deter o progresso e o desenvolvimento — que, como sabemos, destroem o meio ambiente, concentram renda e promovem desigualdade. O decrescimento se origina na Europa, contrariando a ideia de que o crescimento econômico infinito é um caminho viável para melhorar a vida das pessoas. Típico do regime capitalista, este raciocínio desconsidera os impactos sociais e ecológicos do crescimento; seus defensores parecem esquecer que a evolução tecnológica dos países desenvolvidos depende da exploração de matérias-primas no mundo subdesenvolvido.
O eclipse do progressismo: a esquerda latino-americana em debate
O livro organizado por José Correa Leite, Janaina Uemura & Filomena Siqueira reúne contribuições de pensadores e ativistas latino-americanos que outrora apoiaram os governos de esquerda, mas agora fazem balanços críticos dessas experiências, percebendo que suas medidas não acumularam para o esperado — e necessário — cambio. As críticas aqui expostas miram os pecados capitais de tais governos, com destaque para a persistência do modelo extrativista primário-exportador, que concentra renda, destrói o meio ambiente e atropela os direitos dos povos tradicionais, e para os pactos estabelecidos com as elites em troca da “governabilidade”, além da cooptação — e enfraquecimento — das organizações populares e sindicais. Se o “fim de ciclo” é inegável, porém, não há razões para esmorecer. Os erros abrem espaço para o debate, com vistas à construção de um novo projeto que restabeleça a conexão entre esquerda e justiça social. Assim, quiçá, tal como o sol após a passagem da lua, e mais cedo do que o cenário desolador anuncia, as forças progressistas possam voltar a ser uma luminosa alternativa para os povos de Nossa América.
O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos
Alberto Acosta apresenta o conceito do Buen Vivir é um conceito aberto, de origem latino-americana, que se está constituindo em um aporte genuíno ao debate da esquerda mundial do século 21. Ao mesmo tempo, dentro da esquerda neoclássica que, no Brasil, continua dominando o discurso daqueles e daquelas que estão aspirando a construir uma sociedade nova, social e ecológica, até anticapitalista, as resistências aos paradigmas pós-desenvolvimentistas como o Bem Viver ou o decrescimento continuam sendo consideráveis – apesar de o Bem Viver, desde o Fórum Social Mundial de Belém, em 2009, vir ganhando mais adesões.
Descolonizar o imaginário: debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento
A promessa de desenvolvimento sempre exerceu uma espécie de fascínio à esquerda e à direita do espectro político. Ao mesmo tempo que anunciava bem-estar e qualidade de vida, reduzia todos os aspectos da existência humana – e a diversidade cultural dos povos – aos parâmetros estabelecidos pelo mercado e pelo consumo. O livro organizado por Miriam Lang, Gerhard Dilger e Jorge Pereira Neto propõe um debate sobre o desenvolvimento em uma perspectiva ampla e diversa. Seus treze ensaios apresentam uma reflexão crítica ao modelo de integração subordinada da América Latina no mercado global neoliberal – que não foi abandonado após a ascensão dos governos progressistas. Mais do que isso, os textos fomentam, assim, um diálogo urgente sobre a necessidade de construir um horizonte renovado para superar as contingências típicas do Estado patriarcal, colonial e classista.